A nossa entrada no Chile ocorreu pelas montanhas da Cordilheira dos Andes no 41° dia (27/12/10) pelo passo “Los Libertadores” (fronteira de Las Cuevas na Argentina com Los Andes no Chile). A nossa estadia no Chile teve duração de 48 dias e percorremos 2.754,74Km, sendo 1.427,94Km de bicicleta e 1.326,80Km de ônibus. Saímos do país pela cidade de Arica que fica na fronteira com o Peru.
O povo chileno mostrou-se um pouco mais distante do que o argentino e o uruguaio. Pouquíssimas pessoas se aproximaram da gente para perguntar o que estávamos fazendo, mas podíamos notar inúmeros olhares curiosos em nossa direção. Até mesmo enquanto pedalávamos nas estradas, recebemos muito menos apoio dos motoristas do que nos demais países. Vale ressaltar que os motoristas chilenos foram os mais solidários conosco, pois na grande maioria dos momentos mudavam de pista para passar mais afastado.
O clima e o relevo chileno não se mostraram propícios para a prática do cicloturismo, pelo menos para o nosso nível preparo. Sentimos muita dificuldade de pedalar em inúmeros momentos, seja pelo clima extremamente seco do deserto ou pelos intermináveis cerros que estão em todo o país. Além destes fatores naturais, existem muitas regiões com baixíssima densidade populacional, o que exige uma autossuficiência muito grande (pedalamos 100Km sem ver povoado, venda ou barraquinha qualquer na beira da estrada).
Não vimos muitos pratos da culinária chilena que não tenhamos provado na brasileira.
Alguns pontos que se destacaram nesta questão foram a grande variedade de pães que eles produzem, o mote com huesillos (grãos cozidos de uma variedade de milho com um suco parecido com guaraná e pêssego desidratado) e a utilização de aji (um tipo de molho de pimenta) e, principalmente, abacate em todos os tipos de comida. Podemos dizer que o abacate é o alicerce alimentar deles, sendo servido em saladas mistas até cachorro-quente! Para finalizar o quesito culinária, não poderíamos deixar de citar os vinhos chilenos. A variedade, qualidade e preço são incomparáveis com qualquer outro lugar que tenhamos visitado!
As praias chilenas ficaram aquém do que esperávamos. Salvo algumas exceções, todas possuíam uma água gelada, muito vento na beira do mar e grande quantidade de algas marinhas. As praias que se destacaram para o nosso gosto foram:
- Reñaca: bela praia na cidade de Viñadel Mar que possuí uma orla com boa infraestrutura (barzinho, música, restaurantes), além de ter um mar limpo e uma boa faixa de areia. Sendo recomendada para quem procura badalação.
- Papudo: pequeno e tranquilo balneário com águas calmas, extensa faixa de areia e um centrinho simpático, limpo e bem organizado. Indicada pra quem procura tranquilidade.
- Cavancha: praia da cidade de Iquique que tem um esplendoroso pôr-do-sol, fácil acesso à excelente infraestrutura da cidade, muitas opções de entretenimento na beira da praia (calçadão com ciclovia, feirinhas, quadras, escola de surf, mini zoológico) e uma boa faixa de areia com o mar propício para banho. Praia que serve para amigos procurando festa e família querendo descansar.
O Chile, para brasileiros, é um pouco caro. Mesmo assim, existem produtos que são baratos em comparação com o preço no Brasil devido à inexistência de imposto de importação. É difícil dizer que alguém é pobre no Chile, pois todos dirigem caminhonetes do ano, possuem televisões gigantescas de plasma e usam roupas e produtos importados. Somente em locais mais isolados é que percebemos a ausência de fatores essenciais para uma boa qualidade vida.
Durante a nossa passagem pelo país, pudemos observar regiões com uma beleza ímpar. A cidade de San Pedro de Atacama apresentou uma gama incrível de opções de turismo e de paisagens inigualáveis, variando de uma laguna sete vezes mais salgada que o mar até gêiseres à 4.200m de altitude que expelem água fervente em meio à uma temperatura negativa. Nos vales próximos ao centro da cidade, ficamos sabendo do costume dos criadores de lhama de marca-las com uma fita na orelha para saber a quem pertence.
Alguns fatores curiosos que observamos durante nossas pedaladas foram que eles têm o hábito de acampar da beira da praia, a presença de grande quantidade de artistas de rua, a venda de uniformes escolares em grandes lojas de departamento e a venda de cabritos inteiros na beira da estrada. Os chilenos montam um verdadeiro acampamento quando vão à praia. Muitos levam barracas, gerador, barraca para banheiro e tudo mais, passando as férias inteiras acampados na areia. Em todos os povoados por quais passamos, por menores que fossem, existiam pessoas fazendo escultura, duplas de comédia, teatro ao ar livre, mini orquestra que aglomeravam muitos espectadores. Pedalamos por estradas onde os moradores locais vendiam cabritos, sem a pele e sem as vísceras, enrolados em um pano branco similar a uma fronha, sendo que os animais ficavam o dia todo expostos ao sol!
Em toda extensão do país existem incontáveis minas de cobre.Uma característica do Chile é a exploração do terreno através das minas ao invés da atividade agropecuária. A maioria das pequenas plantações por quais passamos eram vinhedos ou de subsistência.
Durante os dias em que estivemos em solo chileno, sentimos uma sensação de segurança que até então não havíamos experimentado nesta expedição. O povo prima pela segurança. Víamos muitos carabineiros (policiais) em todas as cidades por quais passamos, de Santiago (capital nacional) à Chanavaya (pequeno povoado de pescadores). Segundo relatos dos nativos, a rigidez da polícia faz com as leis sejam respeitadas pelos habitantes.
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