Acordamos, tomamos nosso café e, às 10h30min, estávamos nos despedindo do pessoal do hostel. O sol já estava escaldante e esperávamos mais um dia pesado, pois sairíamos do litoral (Huarmey) e iríamos até o meio do deserto (Casma). Na saída da cidade ainda paramos num posto para comprar algumas coisas para comer durante o dia, pois sabíamos que seria uma pedalada no meio do nada! As subidas e descidas eram frequentes e cansativas. O dia estava muito quente (acreditamos que algo próximo dos 35°C) e suávamos muito enquanto pedalávamos. Não existia uma sombra sequer para podermos descansar um pouco e termos uma pequena trégua do intenso calor. Fizemos uma pequena pausa no meio das dunas para repormos as energias.
Seu Clemente |
Assim que continuamos, avistamos uma entrada para um vilarejo e algumas tendinhas na beira da estrada que vendiam frutas. Paramos e compramos bananas, bananas vermelhas, maçãs, bergamotas e uma lúcuma (fazia tempo que queríamos experimentar). Com as bolsas de guidão cheias, continuamos o nosso caminho. Ainda faltava bastante e as coisas continuavam bem difíceis!
Chegamos numa zona mais próxima à orla e nos deparamos com aquela imensidão branca invadindo o deserto. Neste momento, a neblina e o vento contra (que exigia ainda mais da gente) fez com que a sensação térmica se aproximasse dos 15°C. Agradecemos por ter este “refresco” e aumentamos um pouco o ritmo para tentar não pegar noite na estrada.
Após uma longa subida, paramos para descansar e comer. Assim que nos sentamos nas rochas do deserto, avistamos um grande restaurante a uns 100m. Dirigimo-nos até lá para poder comer algo substancioso e beber algo gelado, mas o restaurante estava fechado. Como não nos sobrou alternativa, continuamos nossa viagem.
Cris ultrapassando um caminhão! |
Uns 5Km adiante vimos outro restaurante e optamos por parar. Assim que descemos das bicicletas, fomos muito bem recebidos pelo Seu Clemente. O dono do restaurante era alguém muito simpático e hospitaleiro. Seu Clemente nos chamou para sentarmos bem próximos à cozinha, um pouco afastado das mesas para os clientes normais. Não entendemos muito bem, pois o restaurante estava vazio, mas lá fomos nós. Enquanto nos acomodávamos, Seu Clemente entrou numa portinha e voltou com alguns livros/cadernos em suas mãos. Sentou-se conosco à mesa e começou a mostrar seus álbuns. Na verdade, Seu Clemente é um grande acolhedor de aventureiros que passam pela Panamericana Norte. Os livros nada mais eram do que mensagens de agradecimentos dos mais variados tipos de aventureiros (desde um britânico que está fazendo 80.000Km caminhando desde 2000 e finaliza em 2012 até ciclistas que fizeram a volta ao mundo) que passaram em seu restaurante desde 1990. Ficamos um tempo viajando na leitura de seus recados enquanto ele nos servia um refresco de cevada e um arroz chaufa com pulpo (arroz de carreteiro com polvo). Ele insistiu para pegarmos dois pratos, mas como teríamos que pedalar, pedimos somente um.
Pôr-do-sol com lúcuma |
Assim que chegou a comida e o refresco, nos deliciávamos com o que estávamos querendo a tempo. Como começaram a chegar vários clientes, Seu Clemente foi atender a todos. A Cris não conseguiu comer muito devido ao dente, sendo assim, fui “obrigado” a acabar com toda aquela comida. Quando acabamos de comer, escrevemos uma mensagem no caderno do Seu Clemente. O movimento diminui um pouco e o Seu Clemente veio falar conosco. Perguntou para onde estávamos indo e insistiu para ficarmos em sua casa para não pegarmos noite na estrada. Recusamos educadamente o convite e fomos pagar para partirmos. Seu Clemente não aceitou que pagássemos nada! Agradecemos muito a hospitalidade e a deliciosa comida que havia nos oferecido, tiramos uma foto com a grande pessoa que é o Seu Clemente e seguimos viagem. Ele nos disse que não faltava muito e que metade seria uma subida leve e a outra metade seria descida.
Com as baterias recarregadas, a pedalada estava rendendo muito. A Cris estava tão empolgada que chegou a ter que frear em diversos momentos para não ultrapassar um caminhão que estava a nossa frente. Como já estava ficando tarde, o pôr-do-sol fazia surgir um arco íris nos diversos tons do deserto. Ficamos impressionados com a grandiosidade e beleza daquele momento. Paramos, tiramos algumas fotos, fizemos o relato diário em vídeo e provamos a tão famosa lúcuma. Infelizmente nem o sabor nem a textura agradaram e mais da metade da lúcuma servirá como adubo no meio do deserto.
Continuamos a pedalar e em poucos minutos já víamos um grande vale no meio do deserto e rodeado de grandes montanhas. Chegamos até a entrada de Casma e começamos a perguntar onde era o centro. Paramos num posto de gasolina e nos informamos a respeito de transporte até Huaraz, pois em Huarmey ficamos sabendo que 1/3 dos 150Km de Casma a Huaraz era de chão batido. Para nossa sorte, as vans saíam do outro lado da rua.
Assim que atravessamos a rua, fomos abordados por um homem que não parava de gritar “Huaraz, Huaraz”. Acertamos o preço da viagem e perguntamos se sairia em breve, pois estávamos com fome e sujos, depois do dia inteiro de pedalada. O motorista avisou sairia às 19h. Como já era 18h45min, fomos ao banheiro, pegamos umas empanadas e voltamos para a van. Infelizmente o motorista não foi muito sincero e ficou chamando passageiros até às 21h! Se soubéssemos disto, teríamos jantado e procurado algum lugar para tomar banho!
Saímos de Casma e fomos observando a estrada para ver se teríamos como retornar pedalando. Os primeiros 60Km foram de um bom asfalto, mas, de repente, tudo mudou. A estrada estava em obras nos próximos 60Km, com muitos trechos extremamente ruins e cheia de atoleiros. Sendo assim, já decidimos por retornar de van até Casma. Nos últimos 30Km, a estrada volta a ter um bom asfalto. De cima da Cordilheira Negra, começamos a avistar as luzes da cidade de Huaraz.
Pedimos para o motorista nos deixar em algum hotel, pois já era 2h da madrugada e estava chovendo. Paramos num hotel bonzinho e nos instalamos. Tomamos um belo banho quente para, finalmente, tirarmos o cheiro de suor do corpo e fomos nos deitar, pois estávamos exaustos!
Gastos:
- Hotel: R$40,00 - Comidas: R$12,20 - Van: R$40,00 - Frutas: R$3,34
Estatísticas:
Condições da estrada:
- Medianas, pois em grande parte do trajeto o acostamento era de brita solta e nos obrigava a andar na linha branca da pista de rolagem.
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