sexta-feira, 22 de abril de 2011

153° Dia – Morrope – Piura - 18/04/2011 – Segunda-feira

     Senta que lá vem história!
     O dia de hoje foi uma verdadeira epopéia, pedalamos mais de 180Km pelo deserto Peruano. Vimos coisas que não imaginávamos, conhecemos um ciclista do outro lado do mundo e quase fomos assaltados. Ou seja, apesar de todos os desafios enfrentados, conseguimos vencer a nossa maior quilometragem pedalada na expedição e chegamos sãos e salvos!
     Despertamos cedo, 4h30min levantamos para tomar o nosso café da manhã. Eu (Cris) estava acabada, pois não consegui dormir cedo devido ao barulho dos nossos vizinhos. Prefiro nem comentar a classe de sons que fui obrigada a escutar, traumatizante. Desta maneira, convenci o Moacir de dormirmos mais uma hora e levantarmos as 6h para sairmos. Logo que acordamos pela segunda vez, arrumamos tudo e saímos. Ficamos impressionados em como as pessoas acordam cedo aqui, o sol estava nascendo e já havia muita gente na rua.
      Assim que saímos do hostal, uma imagem nos comoveu: um senhor de cerca de 60 anos saiu de dentro de uma barraquinha coberta de lonas e se dirigiu até o banheiro público da cidade para fazer a sua higiene diária. Ficamos olhando aquela cena e pensando o quanto somos ingratos ao reclamarmos de não termos “um quarto com banheiro privado”. Ficamos pensando em quais condições aquele pobre senhor deveria dormir, e em como ele poderia ficar feliz se tivesse aquela cama do hostal, que tanto reclamamos, para dormir.
     Com a certeza de que devemos ser muito mais agradecidos por tudo que temos, saímos de  Morrope em direção à Piura. A estrada estava tranquila, uma brisa fresca nos animava a pedalarmos cada vez mais rápido. Sabíamos que deveríamos manter a média de velocidade de 18Km/h e que a tendência era essa média ir reduzindo ao longo do dia. Por isso, pedalamos o mais rápido que podíamos no início da manhã. Às 10h o calor começou a ficar mais intenso, nossa água já estava quente e a perspectiva de encontrar uma sombra diminuía a cada quilômetro pedalado.
     Quando já estávamos determinados a parar na beira da estrada mesmo para descansar, avistamos um restaurante. Pedalarmos até ele e entramos. Havia mais dois clientes no restaurante, vimos que eles estavam comendo carne com arroz e feijão e nos animamos.  Quando a garçonete nos atendeu, perguntamos o que tinha de almoço e ela nos disse que só havia frango assado com arroz.  Achamos meio estranho que, às 11h da manhã e com apenas dois clientes na loja, o almoço tenha acabado, mas aceitamos o frango mesmo assim. Depois de um tempo, ela voltou e avisou que só havia massa com frango! Quando a comida chegou, pedimos uma coca-cola gelada, mas a moça disse que só havia fora do gelo. Aceitamos a bebida assim mesmo e comemos. Depois do almoço, decidimos que seria melhor descansar um pouco antes de seguirmos para não pegarmos tanto sol. Ficamos esperando a atendente para pedir uma água gelada por meia-hora. Durante esta espera, vimos os cachorros entrarem e saírem da cozinha, assim como uma galinha que caminhava pelo saguão e defecou ao lado do balcão do bar. A atendente só apareceu quando outro cliente chegou, aproveitamos que ela estava ali e pedimos a água, mas como não havia gelada, falamos que poderia ser um refrigerante mesmo. Foi aí que ela nos disse que só havia inka-cola e coca-cola geladas. Ficamos pasmos! Como antes não havia gelada e agora há? Resolvemos relevar, pensando que ela não deve ter nos entendido. Enquanto bebíamos a nossa inka-cola gelada, o Moacir me mostrou um rato que sacudia o seu rabinho no telhado que dividia a cozinha do saguão. Como já havíamos almoçado mesmo, só nos restou dar risada da situação e ir embora.
     Ao sairmos do restaurante, vimos um cicloturista chegando no restaurante. O nome dele é Sam, é um Inglês que já está viajando de bicicleta por todo o mundo há dois anos. Conversamos com ele sobre os nossos trajetos (pois ele está viajando no sentido oposto do nosso), sobre as diferentes culturas e belezas naturais e tiramos algumas fotos. Após nos despedirmos, seguimos viagem até Piura, pois teríamos que vencer mais 100Km ao longo do dia.
     O início da pedalada rendeu muito porque o terreno era plano e o vento estava ao nosso favor. Quando faltava cerca de 60Km, o terreno começou a modificar-se e o sobe e desce, acompanhado de tempestade de areia, apareceu para nos atrapalhar. O Moacir não quis se render, pedalou com todas as suas forças (me puxando com o extensor) por mais 30Km, mas teve que parar quando começou a passar mal. Acreditamos que o almoço não fez muito bem para ele. Desta maneira, descansamos por um tempo e, depois, começamos a pedalar no meu ritmo para ele poder se recompor.
     Ao cair da noite, chegamos em Piura. A entrada da cidade foi um caos, estava cheia de reformas na estrada, os carros não paravam de buzinar e o asfalto estava todo esburacado. Paramos em alguns pontos para perguntar sobre o centro da cidade. Recebemos muitas dicas dos moradores locais para cuidarmos das nossas coisas pois haviam muitos roubos na cidade.
     Assim que chegamos no centro, umas avenidas bem bonitas se mostraram a nossa frente. Fomos até a praça de armas a procura de hostals, mas só havia um hotel caríssimo. Desta maneira, pedimos informação à um guardinha e nos dirigimos até um hostal mais econômico. Este estava lotado, mas o dono nos indicou outro. Quando finalmente chegamos ao hostal El Sol, ficamos encantados ao ver que tinha piscina e wi-fi. O Moacir, que já se sentia melhor,entrou no hostal para ver o quarto e acertar o pagamento e eu fiquei com as bikes.
     Enquanto eu esperava, um senhor bem vestido veio falar comigo. Imaginei que ele estava interessado na nossa viagem, mas quando percebi que ele fez um sinal com o olhar para dentro do hostal, olhei para trás e vi que havia outro homem mexendo na minha bolsa de guidão. Nem tive tempo de pensar, só fui para cima dele. Para minha sorte, o Moacir também havia estranhado o movimento e saiu do hostal para ver o que estava acontecendo. Os homens se assustaram e fugiram rapidinho. Só depois que eles já haviam partido consegui entender que estavam juntos tentando me roubar. Agradeci ao meu anjo da guarda e ao Moacir pela proteção, e entramos no hostal para nos hospedar.
     Passado o susto, nos arrumamos e saímos para jantar. Após a janta, voltamos para o hostal e deitamos para ver televisão. Agora estou escrevendo e o Moacir está se alongando. Daqui a pouco vamos dormir pois hoje foi um dia de muitas emoções.
Gastos:
- Hostal: R$66,00   - Almoço: R$6,67   - Bebidas: R$3,40   - Janta: R$12,40
Estatísticas:
- Distância: 184,71Km   - Tempo: 8h43min55 ”   - Média: 21,15Km/h
Condições da estrada:
- Muito ruins, andamos o tempo todo pela estrada pois o acostamento estava todo esburacado e com areia e brita. Para nossa sorte, havia pouco movimento.

2 comentários:

  1. Tem que ficar de olho nestes peruanos ehn? Cuidem-se, até então não haviam tido uma situação
    destas.Fiquem de olho.
    Beijos e fiquem com Deus!!!

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  2. PUtzzz... parabéns pela pedelada de "hoje", estou colocando os textos em dia, fazia muito tempo que não lia... cuidem da saúde, comam saladas e reforcem a alimentação, hidratação e cuidem para comer carbo e proteina... sei que sabem, mas não custa lembrar!!!

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