sábado, 7 de maio de 2011

EPOPEIA PERUANA

       A nossa epopeia peruana começou por Tacna, fronteira com o Chile, no 89° dia (13/02/11) e encerrou na fronteira com o Equador, no norte do país, no 164° dia (29/04/11). Ficamos, praticamente, um mês e meio no país de maior diversidade cultural por qual passamos até agora. Neste período, pedalamos durante quase 94h e percorremos 1.585,29Km. Passamos pelas montanhas geladas e cheias de vegetação do interior e pela extensa faixa de deserto no litoral.
      O povo peruano mostrou-se um pouco mais desconfiado que os demais, sendo que em poucas oportunidades as pessoas se aproximavam ou deixavam que nos aproximássemos para conversar. Apesar disto, algumas pessoas muito boas cruzaram o nosso caminho e nos ajudaram muito em determinados momentos, até mesmo de uma forma surpreendentemente solidária.
      O clima no Peru é bem ameno, apesar de ter alguns locais um pouco extremos. O litoral desértico e as montanhas geladas acabam se tornando locais mais exigentes, mas nada comparado aos desertos chilenos. O relevo próximo ao litoral tem diferentes formatos, se tornando mais acidentado nas proximidades de Lima e mais plano ao sul e a norte. No interior do país, se faz presente três cordilheiras com picos que ultrapassam os 5.000m de altitude.
      As cidades peruanas não se mostraram muito desenvolvidas. Até mesmo as capitais de departamento são, surpreendentemente, pequenas ou pouco evoluídas. Durante todo o nosso percurso, passamos por pouquíssimas cidades que possam ser comparadas ao padrão brasileiro. Aqui, as pessoas parecem não se preocupar tanto com a aparência das coisas, de sua própria aparência ao reboco das casas. Vimos inúmeras residências no interior do país onde as casas não tinham, sequer, piso. Com um chão batido de terra na sala das casas, tudo se transformava num lodo.
      A cultura peruana parece não se preocupar muito com a higiene pessoal e dos locais. A grande maioria dos restaurantes são, aparentemente, sujos e mal cuidados. O acondicionamento dos produtos, principalmente daqueles que precisam de refrigeração, é extremamente duvidoso. Grande parte dos laticínios e embutidos (iogurte, queijo, manteiga e presunto) são guardados em prateleiras, mesmo em cidades onde a temperatura média era de mais de 25°C.
      Entrando na parte culinária, o Peru foi o primeiro país em que realmente notamos uma grande diferença em relação à cozinha brasileira. Os pratos têm tempero e ingredientes diferenciados. Eles têm uma paixão por sopas e têm o costume de ter uma refeição completa (com entrada e prato principal). Alguns pratos se destacaram positivamente ante ao nosso paladar, tais como a batata a la huacaína, o ceviche, o arroz chaufa e o cabrito a la norteña. Aqui eles também tem uma certa adoração por chás e refrescos (sendo que os únicos que gostamos foram os de chicha morada e de cebada), mas a melhor bebida que provamos foi o Huajzapata (parecido com a mistura de quentão com sangria e somente encontramos em Puno). Algo que foi intragável foi o prato típico Chanfainita (composto por arroz branco, salada e um guizado de pulmão de vaca com batata). A textura e sabor do pulmão de vaca é algo extremamente asqueroso.
      As praias peruanas começaram a se mostrar atrativas somente no extremo norte do país (até então eram geladas, pouco estruturadas e cheias de pedras). Lá, encontramos um litoral com uma bela faixa de areia, um mar com água mais quente e paisagens paradisíacas. Ficamos encantados com Zorritos, Mancora e Puerto Pizarro, mas nenhuma delas foi tão espetacular como Punta Sal. Este pequeno balneário turístico é formado por poucas hospedajes e restaurantes e possui uma orla maravilhosa! Esta, é composta por uma larga faixa de areia fofa e limpa, a água do mar é calma e transparente e a pequena península transmite uma sensação de paz pouco experimentada no litoral Pacífico, até agora.
      A questão econômica é um pouco diferenciada, pois existe uma certa faixa da população que sobrevive da agricultura de subsistência e da criação de pequenos rebanhos, sendo extremamente simples. Somente vimos pessoas na condição de pobreza (a ponto de passar fome) nos grandes centros urbanos. O câmbio é muito favorável para brasileiros, pois tudo é muito mais barato do que no Brasil. Brincávamos que se a pessoa tem milhagens num programa de alguma companhia aérea qualquer, seria muito mais barato ir para o Peru do que para algum Estado brasileiro. Em grande parte da nossa estadia, ficamos em hostels (pousadas) que tinham um preço médio de R$25,00 e o preço médio das refeições ficou em torno de R$3,00. Chegamos a encontrar uma refeição completa (refresco, entrada, prato principal e sobremesa) por R$2,00! E a comida era boa! Até mesmo as passagens de ônibus e os passeios nas regiões turísticas são extremamente baratos.
      O potencial turístico do Peru é um capítulo a parte. O país apresenta uma vasta gama de opções para todos os gostos de atividades turísticas. Desde as imperdíveis visitas a pontos extremamente conhecidos, tais como Machupicchu, Cusco, Puno (Titicaca) e Lima, até locais um pouco menos famosos (mas não menos interessantes), como Huaraz, Paracas, Punta Sal e Trujillo. Pode-se fazer de tudo no Peru, basta pesquisar e ver o que mais satisfaz as suas expectativas. Todos os locais que citamos foram muito interessantes e vivemos momentos inesquecíveis. A nossa única decepção turística foi Nasca. A cidade não tem nenhum atrativo além das figuras, os sobrevoos têm um preço abusivo (U$130 por pessoa por 30min) devido a pequena quantidade de empresas que estão autorizadas a explorar este serviço e os passeios terrestres são uma verdadeira enganação.
      Alguns pontos que gostaríamos de comentar:
     - as principais atividades econômicas do país é a agricultura e a pecuária, sendo seguidos pelo turismo;
     - o turismo possui a melhor organização estatal entre os países por quais passamos, pois o governo organizou uma rede de material turístico em todas os principais pontos do país (“i Peru”), onde é possível saber tudo sobre a região de interesse. Infelizmente, este investimento não se estendeu a organização e manutenção dos tesouros nacionais (a segurança dos parques é vergonhosa, além disso, mesmo em altitude, não há serviço de socorristas disponíveis);
     - o artesanato peruano é extremamente rico (as cerâmicas dos povos de cima das montanhas são incríveis!) e variado conforme a região visitada;
     - o transporte público em todo o país, inclusive em Lima, é realizado de forma precária por vans superlotadas e sem segurança e conforto algum para os passageiros (a única rede de transporte adequada se encontrava em Lima, mas só atendia a setores restritos da cidade);
     - e, por último, mas não menos importante, os peruanos têm um prazer quase que sexual por buzina! Não conseguimos ficar mais de dois segundos sem escutar alguma buzina nas cidades com mais de dez habitantes. Eles buzinam para tudo! Chamar as pessoas, avisar que estão passando, avisar que estão parados, que vão dobrar, que vão continuar em frente, ou seja, PARA TUDO E A TODO MOMENTO!
     Resumindo, o Peru é um país de paisagens incríveis, com grandes riquezas naturais, com cultura e história únicas na América do Sul, mas com um povo que não parece interessado em cultivar suas raízes nem preservar os seus tesouros. A impressão que tivemos foi que o peruano luta contra a civilização trazida com a colonização, entretanto, não se esforça para cultivar sua tradição. Parece um povo que se rendeu frente ao inimigo, que admira o seu passado, mas que não tem força para mudar o presente. Adoramos o Peru, valorizamos o seu potencial e esperamos que este povo se dê conta do país fabuloso que tem nas mãos.

Um comentário:

  1. Adorei o resumão sobre o Peru! Muito gostoso de ler. Parece que vocês estão na minha frente contando sobre a viagem! Deu pra matar um pouquinho a saudade... Beijos!!

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