quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

82° Dia – Tocopilla – Caleta Chanavaya – 06/02/11 – Domingo

Saindo de Tocopilla
     Ontem não conseguimos ir dormir cedo. Ficamos escrevendo e postando alguns relatos atrasados, viajando nas oportunidades que estão surgindo e arrumando tudo para hoje. Acordamos às 9h30min, tomamos nosso café (onde aproveitamos e fizemos os sanduíches para o dia) e começamos nossas pedaladas. Antes de ir para estrada, tivemos que passar num posto de gasolina e encher o tanque (garrafinha do fogareiro), pois já estava na reserva.
   Saindo do posto, nos dirigimos para beira da praia e pegamos a Ruta 1 em direção à Iquique. Era meio-dia, o sol estava escaldante e, já na primeira subidinha, destilávamos! Mesmo com esse calor todo, a brisa que vem do mar ajuda bastante, deixando um ambiente bem melhor do que a secura que foram os últimos dias de pedal rumo ao litoral. Hoje, nos sentíamos muito bem, conseguíamos respirar maravilhosamente estando ao nível do mar novamente (acreditamos que os “treininhos” de subida na altitude nos deixaram em boa forma..rs..). A estrada vai serpenteando, literalmente, entre os morros da cordilheira da costa e o mar! Muitas e muitas vezes, ficávamos no único espaço possível entre aquele paredão à nossa direita e as ondas do oceano Pacífico à nossa esquerda.
Acampamento ao fundo
     Saímos de Tocopilla sem paradeiro, pois não sabíamos a real dificuldade do dia de hoje e, com isso, não fizemos nenhuma previsão de quilometragem. Tínhamos feito uma pesquisa no google maps para ver onde existem povoados e possíveis hospedagens, mas nada confirmado. Assim que fomos nos afastando de Tocopilla, começamos a ver inúmeras barracas na beira da praia (de todos os tipos: das mais simples às com banheiro químico e tudo). Achamos meio estranho e ficamos na dúvida se o pessoal passava o dia, o fim de semana ou o veraneio todo acampado.
      Depois de uns 85Km de pedal, chegamos na aduana da 1ª Região aproximadamente às 17h30min. A fronteira da 1ª e 2ª Regiões é marcada pelo encontro do Rio Loa (principal Rio do deserto, que atualmente está muito seco devido às mineradoras) com o mar. Existia um restaurante, banheiros, um botequim e um posto dos carabineiros (acreditamos que foram um pouco infelizes em batizar os banheiros de “baños públicos El Loa”, com esse nome nem precisamos dizer para onde vai tudo!). Como ainda era cedo e só havia água gelada na ducha da habitación que o restaurante alugava, tomamos uma Pepsi e pegamos um mote com huesillos (FINALMENTE! Queria comer já faz um tempo, mas não achava! É tipo um milho de canjica com um suco parecido com guaraná e pêssego meio desidratado) e continuamos o nosso caminho. Antes de sair, informamo-nos a respeito de hospedagens e a atendente (muito sem saco!) nos disse que havia uma no próximo povoado que ficaria uns 10km à frente.
Caleta de pescadores
     Subimos nas bikes e fomos para estrada novamente. Pedalamos uns 15Km até chegar na entrada do tal povoado. Antes de entrarmos, perguntamos para um casal que estava na parada de ônibus sobre hosterias, hospedajes, arriendo de camas. Eles disseram que não existia nada disso ali, somente em San Marcos que ficava mais 10Km em direção à Iquique. Sendo assim, lá fomos nós novamente. Por sorte, o vento estava soprando a nosso favor e conseguíamos manter uma boa média de velocidade.
     Depois de pedalar uns 22Km (o pessoal daqui não é muito bom com distância..rs..), avistamos uma placa de pousada a venda. Chamamos, batemos palma, olhamos em volta e NADA! Sendo assim, andamos mais um pouco até um armazém. Antes de chegar no armazém, olhei (Moacir) para trás e vi um pôr-do-sol incrível. Fomos obrigados a parar e registrar o momento. Continuando nossa busca, perguntei no armazém sobre “posadas” e a primeira coisa que escutei foi “Por que não acampam na praia? Não tem barraca? Aqui é bem seguro!”. Depois de explicar que queríamos um lugar onde pudéssemos tomar banho, recebi a indicação de Rio Seco, um povoado seguinte, onde talvez houvesse alguma coisa do tipo.
Rio Loa
     Saindo do povoado, percebemos que já era 20h30min, estava escurecendo e ligamos nossas luzes traseiras. Andamos mais uns 3Km e escureceu de vez, sendo assim, tivemos que dar uma parada para ligar os faróis. O farol da Cris, não sabemos por qual motivo, não ligava de jeito nenhum! Colocamos pilhas novas e nada. Por sorte, trouxe um farol reserva e este funcionou perfeitamente. Após a função toda, seguimos naquela escuridão até Rio Seco.
     Assim que chegamos ao povoado, perguntamos para uns moradores se havia habitación ou camas para arrendar. Eles nos indicaram um restaurante mais a frente. Chegando no tal restaurante, ele estava “cerrado”! Uma casa ao lado estava com as luzes acesas e fui perguntar, mais uma vez, se alguém sabia onde poderíamos passar a noite. Novamente recebi a indicação de montar uma barraca na praia, mas após explicar, ela se prontificou a falar com a vizinha. Depois de conversarem meio que aos berros (uma na frente do restaurante e uma nos fundos), recebemos a resposta negativa. Decidimos respirar fundo, comer algo e nos prepararmos para o que viesse, pois, na pior das hipóteses, viraríamos a noite até encontrar algo ou até chegar em Iquique (de Tocopilla a Iquique são 230Km)!
Montanhas e mar
     Enquanto comíamos, a mulher veio falar conosco e disse que num próximo povoado (não entendemos o nome) havia um restaurante e talvez tivesse alguma hosteria. Mais uma vez lá fomos nós cheios de esperança! Começamos a pedalar e avistamos alguns veículos numa altitude muito maior que a nossa e descendo em nossa direção. Logo, deduzimos: vamos subir! Não deu outra, depois de uns 5min começamos uma subida um pouco íngreme e contínua. Enquanto subíamos, estávamos suando muito (a noite estava bem quente) e não tínhamos a mínima ideia de quanto faltava, pois não enxergávamos nada além dos nossos faróis!!! (muito obrigado Arco e Flecha!)
    Depois de muito suar, vimos uma tão esperada placa que indicava que a descida estava prestes a começar. Não parávamos de descer e conseguíamos ver algumas luzes à nossa esquerda, sendo que torcíamos para que fosse o tal restaurante. No final da descida, confirmamos que era o restaurante e paramos para pedir informação.
Pôr-do-sol em San Marcos
      Disseram que havia uma “hospedaje” na caleta (vilinha de pescadores, povoado). Fomos em direção ao que pensávamos ser a caleta e assim que chegamos perto vimos que eram mais barracas na beira da praia. Quando paramos para voltar ao restaurante perguntar onde era a caleta, a Cris teve a brilhante ideia de primeiro jantarmos e só depois irmos em busca de um teto. Estacionamos nossas bikes e nos sentamos para cenar, já era 23h30min. Pedimos umas bistecas e um pescado frito, tudo acompanhado com arroz e salada. Comemos com bastante calma e ficamos vendo uma televisão. Já planejávamos pedir para dormir dentro do restaurante caso não existisse algum tipo de hospedagem na caleta, pois o restaurante fechava às 2h e abria às 7h. Depois de viajar bastante em todas as possibilidades e surpresas que este dia nos reservara, pagamos a conta, perguntamos como se chegava na caleta e fomos adiante.
Cris na sua estréia noturna
     Pegamos um caminho de asfalto com algumas luzes ao seu final. Conforme descíamos, as luzes foram aumentando e, para nossa surpresa, eram mais barracas!!! O pessoal acampando com tudo que tem direito (de gerador à casinha para necessidades!). Seguimos em frente e começamos a ver algumas casas. Como já era 1h30min, torcíamos para que existisse alguém na rua para perguntarmos onde era a tal “hospedaje”. Ao chegar no centrinho, vimos um mercadinho e fomos questionar se sabiam onde era. A senhora, muito simpática, disse que sim e que devíamos acompanhá-la.
     Ao entrar na rua, ela disse que era numa casa de dois andares, mas todas as luzes já estavam apagadas. De uma forma sorridente ela disse que tentaria chamá-los para que nos atendessem. Depois de alguns chamados, ouvimos uma resposta lá de dentro e comemoramos (por dentro) pelas chances de termos um teto estarem aumentando. Assim que a dona da casa saiu, ainda de pijama e roupão, disse que existia um quarto em que poderíamos ficar.
A tão esperada descida final!
     Após ela nos mostrar as instalações, fomos tomar um banho gelado, pois não tinha água quente. Em seguida, demos uma alongada e arrumamos tudo para dormir. Com banho gelado e tudo, comemoramos ter encontrado onde passar a noite, tomar um banho e deitar numa cama, que por sinal era muito boa! Aproximadamente às 2h apagamos! Hoje foi o dia em que percorremos a maior quilometragem e pedalamos durante mais tempo em toda a expedição.
Obs: Eles realmente passam o verão acampados na beira da praia. Eles montam uma mega infraestrutura com gerador, barraca para banheiro, e barracas imensas e desfrutam suas férias desta maneira. Agora entendemos algumas placas que tínhamos visto em outras praias com os dizeres de “Proibido acampar”.
Gastos:
- Quarto: R$40,00 - Janta: R$33,20 - Mote com huesillos e Pepsi: R$7,20 - Gasolina: R$1,20 - Água: R$3,00
Estatísticas:
- Distância:156,23 Km - Tempo: 9h06min55” - Média: 17,27Km/h
Condições da estrada:
- Muito Boas, com poucos momentos com o asfalto irregular e acostamento estreito ou esburacado.

4 comentários:

  1. Que loucura, deve ter sido um pânico não saber onde ficar e ter que "ir indo" até achar!!!

    Abraços para vocês e continuem com todos os detalhes, pois são muito legais e importantes!!!!

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  2. Oi Pablo,
    Foi complicado pois não estávamos esperando essas circunstâncias, mas valeu como experiência! hehehe...
    Muito obrigado por toda a força que tens nos dado!
    Abraço.

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  3. Aposto que foi tudo culpa do Moacir!!! hahahaha
    Pô, muito boa a história desse dia, pelo menos pra quem está lendo! hehehe
    Beijos do Boni, casal!

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  4. Pior que dessa vez ele não teve culpa Boni...
    Fomos enganados pelo satélite do google. Hehehe...
    O dia foi cansativo mas divertido tb! Que bom que estás curtindo!
    Abraço.

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