quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

452° Dia – Caraíva – Ponta do Corumbau – 11/02/2012 – Sábado

Acordamos renovados depois de uma bela noite de sono numa caminha confortável. Como não tínhamos água, pão nem gasolina para o fogareiro, fui comprar tais itens enquanto a Cris dava mais uma descansadinha. Depois de uns 30min, retornei à Pousada Camping Chalés Pau Brasil e acordei a Cris para começarmos a arrumar tudo. Em pouco tempo tomamos o nosso café da manhã, arrumamos tudo e enchemos os nossos reservatórios de água (11 litros no total), pois, segundo o que nos falaram, Ponta do Corumbau é um lugar bem isolado.
Como teríamos que atravessar para a cidade antiga de Caraíva, descemos pela trilha que vai direto até os barqueiros que os locais utilizam, pois são mais econômicos do que os turísticos (R$5,00 o casal ao invés de R$4,00 por pessoa). O mesmo barqueiro de ontem veio fazer o translado e se apavorou com o peso das bicicletas. Porém, apesar do sofrimento, conseguimos equilibrar as duas bikes no pequeno barquinho e iniciamos a parte fluvial do trajeto. Foram uns 15min de viagem, pois pedimos para ele nos deixar o mais próximo do centro da cidade possível para termos que empurrar menos as bikes pelas ruas de areia.
Assim que atracamos do outro lado, agradecemos pelos serviços e já começamos a sofrer. Empurrar as bicicletas carregadas na areia fofa é um trabalho desumano. A força que temos que fazer nos braços e costas para conseguirmos andar poucos metros nos fadiga rapidamente. Para a nossa sorte, fomos do cais até a igreja por um caminho de terra mais socada em que não tínhamos que fazer tanta força. No entanto, da esquina da igreja em diante foram minutos intermináveis de muito esforço e suor debaixo de um sol escaldante. O problema, além dos já citados, era que não sabíamos o quanto duraria a tortura, pois somente sabíamos que “mais pra frente” a estrada ficava com o chão duro (conforme informes que obtivemos ontem).
Ficamos uns 30min intercalando entre momentos de sofrimento com descansos merecidos nas raras sombras. Como as forças e, principalmente, a paciência estava se esgotando, fui reconhecer o terreno à frente enquanto a Cris descansava um pouco. Fiquei extremamente feliz em ver que faltavam apenas uns 50m para chegarmos ao chão batido prometido. Sendo assim, totalizamos uns 500m de areia fofa que foi uma excelente aquecimento para o dia, pois já estávamos destilando de tanto suar.
Finalmente conseguimos iniciar as pedaladas realmente. A estrada praticamente costeava o mar, sendo separada somente por alguns cômoros. Neste momento vimos que a história de que não existe carro era pura invenção, pois vimos inúmeras casas com carro na garagem. Pelos menos a esta altura conseguíamos pedalar (está certo que com uma certa dificuldade) e tínhamos uma bela brisa marinha para nos refrescar. De tempos em tempos a estrada se tornava um atoleiro de tanta areia e tínhamos que relembrar o cansativo processo de empurrar as bikes.
Assim fomos até o povoado de Barra Velha. Lá pudemos escolher entre ir pela beira da praia ou então pegarmos uma “estrada” secundária. Falamos com um senhor que estava no entroncamento das duas escolhas e pedimos informação. Ele nos disse que pela praia seria bem difícil, pois a areia é extremamente fofa e a maré estava alta. Sendo assim, perguntamos o caminho pela estrada. Ele disse que passaríamos por um povoado, por uma área dos índios Pará e de lá pegávamos o caminho até a Ponta do Corumbau.
Com as informações na cabeça, agradecemos e partimos. Uns 200m à frente passamos por duas indiazinhas e elas começaram a correr atrás da Cris para conversar. Achamos um pouco diferente a atitude delas, mas conversamos um pouco com elas e nos despedimos, pois precisávamos aumentar o ritmo para chegar em Corumbau ainda hoje. Passamos pelo povoado que o senhor havia falado e paramos para perguntar o caminho, pois as ruas mais pareciam um labirinto. Outro senhor prestativo nos informou por onde deveríamos ir e continuamos as nossas pedaladas.
A partir deste momento, conforme pedalávamos a estrada ia se transformando em uma trilha cada vez mais precária. Quando percebemos, estávamos pedalando por uma picada no meio do mato alto. Seguíamos o caminho sem ter muita certeza do que estávamos fazendo. Passamos por alguns povoados indígenas meio desertos e seguimos em frente. Olhávamos em volta e só víamos mata, sem casas ou pessoas. Paramos, ligamos o GPS e, infelizmente, não adiantou nada, pois estávamos no meio do nada segundo o satélite (e pior que estava certo). De repente, apareceu uma moto e aproveitamos a oportunidade para perguntarmos o caminho. O motoqueiro confirmou o caminho e disse que não faltava muito para chegarmos.
Ficamos muito felizes, principalmente pela dúvida ter ido embora (a dúvida é uma das piores coisas quando se está “perdido” numa região remota e desconhecida). Seguimos a nossa pedalada na pequena trilha de areia fofa em meio aos juncos. Achávamos até engraçado tal situação, pois mudamos completamente o estilo dos nossos trajetos nos últimos dias em relação ao restante da viagem.
Depois de quase 1h, chegamos à ponte que era a referência de quase estar chegando. Quando estávamos passando pela ponte, percebemos que a água do rio era vermelha, muito diferente das demais que já vimos. Admiramos aquele recanto de mata preservada em meio ao junco e às pastagens. Continuando a pedalada, nos deparamos com uma mistura de junco e pastagem onde tinha um grande rebanho. Progredíamos com uma certa precaução, pois vários estavam nos encarando fixamente. Foi então que tive a ideia de colocar duas folhas de coqueiro no capacete. Assim que continuamos empurrando as bikes (nesta altura a areia fofa não deixava mais a gente pedalar) o rebanho olhou novamente e dispersou com medo. A Cris acha que não, mas tenho certeza que a minha camuflagem funcionou.
Ainda comemorando e rindo da situação, avistamos dois carros passando em alta velocidade a uns 300m de onde estávamos. Ficamos realmente felizes, pois deduzimos que lá deveria ser a tão esperada estrada. Os últimos metros de empurra bike nem foram tão ruins, pois não víamos a hora de poder pedalar novamente. Chegando na estrada, o chão batido em más condições parecia um asfalto perfeito para nós. Pedalávamos com um sorriso frouxo no rosto. Em menos de 30min chegamos ao povoado de Corumbau. O caminho que fizemos hoje foi digno de uma corrida de aventura, e das pesadas!
Sendo assim, iniciamos a procura por onde ficar. Paramos numa pousada para perguntar o preço e veio como resposta um surpreendente R$150,00 (uma pousada bem simplesinha). Diante de tal informação, perguntei se havia camping ou alguma outra pousadinha mais simples e barata. A moça nos indicou falar com a Dona Ana que é a dona da Pousada do Pontal, bem no centro do povoado. Sendo assim, lá fomos nós.
Ao encontrarmos a Dona Ana, vimos as condições do estabelecimento e demos uma choradinha no preço. Como ela baixou um pouco o preço, era o última unidade disponível e o quarto era bem grande e bem cuidado, instalamo-nos. Assim que estávamos entrando, veio um senhor perguntar para a Dona Ana se ela tinha vaga. Por dentro, agradecemos por termos nos instalado de uma vez. Colocamos todas as nossas coisas no quarto e já fomos para a praia.
Assim que vimos o local, tivemos certeza de que o sofrimento valeu a pena. O mar era uma piscina de tão calmo e com uma água quentinha. Ficamos um bom tempo relaxando nas águas maravilhosas da Ponta do Corumbau. Fazia tempo que não pegávamos uma água tão boa! Infelizmente a maré estava alta e não conseguimos observar a faixa de areia que dizem que entra um bom pedaço para dentro do mar. Cansados de tanta água, começamos a retornar à pousada. Como a fome já estava grande, passamos em alguns restaurantes para ter uma noção de preço. Confirmamos o que as pessoas haviam nos dito sobre os preços um pouco salgados (em média uns R$50,00 por um prato para duas pessoas).
Sendo assim, optamos por fazermos a nossa janta. Voltamos para a pousada, tomei um banho rápido e fui procurar o que comprar nos mercadinhos para cozinharmos enquanto a Cris tomava o banho dela. Para a minha surpresa, só tinha carne para vender na mercearia da beira da praia, que também era restaurante. Peguei um pacote de peito de frango, tomate e cebola para fazermos um clássico arroz com galinha.
Chegando de volta à pousada iniciamos os preparativos. Quando fomos descongelar a carne vimos que eram dois peitos enormes. Como não temos onde guardar a carne refrigerada, decidimos fazer um arroz com galinha para a janta, comer tudo, lavar a louça e já fazer outro arroz com galinha para amanhã. Cumprimos o combinado e, após terminar tudo, estávamos exaustos e empanturrados! Ainda demos uma voltinha pelo mini centro (mini mesmo!), mas tudo já estava fechado ou fechando. Sendo assim, retornamos e fomos dormir, pois amanhã queremos pegar a maré baixa para ver a diferenciada beleza deste local e aproveitar este mar paradisíaco.

Gastos
- Pousada: R$50,00   - Compras: R$31,00   - Gasolina: R$2,00    - Barco: R$5,00
Estatísticas
- Distância: 16,7Km   - Tempo: 2h11min54”   - Média: 7,3Km/h
Condições da estrada
- Na verdade não era estrada, grande parte do caminho foi numa trilha no meio do areial e do mato.

Um comentário:

  1. Olá, como estão? Encontrei-vos na Pousada Camping Chalés Pau Brasil em Caraíva. Como vc estão? Como está a viagem? Quando passarem pelo Rio, avisem. Grade abraço e ótimas pedaladas, Fernando

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